terça-feira, 17 de março de 2009

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Da janela do ônibus eu vejo todas as pessoas passando, a chuva caindo e me pergunto o que é será que tanto passa na cabeça da cada uma delas. Não é possível que só eu pense tanto na importância do amor, não é possível que elas só estejam preocupadas com o que vão fazer de janta ou se vão chegar a tempo de buscar as crianças na escola. Mas tudo isso é rotina, vai tudo dar certo e comerão do macarrão que sobrou no almoço. Deve ter alguma outra importância na vida de todas essas pessoas, nós não paramos de pensar um segundo, não é possível que só eu insista tanto em bater nessa tecla. Talvez eu tenha mesma nascido pra ser essa escritora que está cansada de amar errado e a minha existência seja apenas essa. Lembrar as outras pessoas que elas não estão sozinhas. Ou talvez, escrevendo, eu mesma não me sinta sozinha. O problema é que eu não sei explicar que força tão maravilhosa é essa que me invade de dentro pra fora.. E como é que as pessoas vão se encontrar se eu não sei o que tanto sinto?! Chamam por ai de amor. E eu acho o amor lindo. Não consigo enxergar nada mais lindo do que duas pessoas que se amam tanto que são capazes de passar o resto da vida juntas. Ah, se as pessoas soubessem como o amor é tão raro. Acho lindo o amor materno, mas para termos uma mãe tão somente antes é necessário do amor carnal. O homem e mulher quando se tornam um só, é só ai que começa tudo. Sou capaz de enxergar poesia em qualquer relação por mais rápida que ela seja. Menos nas minhas. Porque, droga, eu amo! Amo calada com uma sensibilidade que eu guardo para o espaço entre a caneta e o papel. E durante o banho me deu um vazio danado. E eu comecei a perguntar pra não sei quem por que é que eu insistia tanto em amar errado. Um amor só é completo quando se é completamente louco um pelo outro. Chego então a conclusão de que eu nunca amei e que é só esse o vazio que eu carrego no peito. Quer dizer, eu amei. Fui doidinha de pedra por alguns dois ou três caras mas eles nunca tiveram vontade de passar mais do que a festa de formatura comigo. E eu comecei a chorar e chorei feito louca. Chorei pelo último babaca que me deixou por pura luxúria porque ele me amava. Chorei pelo último sem noção que me deixou por pura indecisão porque, bom, ele também me amava. E chorei toda a minha ingenuidade em achar que algum dia eu vou viver uma história digna de cinema. Comecei a gritar em voz alta para que nem eu mesma desacreditasse que eu amei mesmo vocês, seus infelizes! E amei muito! Eu esperei sim por telefonemas que nunca aconteceram. (Quer dizer, alguns aconteceram, uns tantos me fizeram feliz, outros tantos me deixaram aos prantos.) Eu amei, eu amei sim! Talvez, se eu ainda quisesse, eu arranjasse um jeito de buscar dentro de mim todo esse amor que eu tinha por vocês. Mas ai o meu vazio começou a virar um quentinho gostoso porque hoje é terça feira, tenho uns 200 contatos no celular mas não tenho vontade de ligar pra ninguém pelo simples fato de que ao contrário de quase todas as pessoas desse mundo eu não ligo a menor pra pegar 10 ou 11 em uma noite. Se não for alguém que me ame na mesma intensidade, eu não quero. Andar de mãos dadas pra mim é algo muito mais maravilhoso do que pode vir a parecer, andar de mãos dadas é ligar dois corações. O pulsar que se sente é próximo aquele que a gente sente quando encosta a cabeça no peito de alguém. Pergunto como essas pessoas conseguem servir apenas aos seus desejos e não reparar que ter uma relação recíproca, fazer planos é muito mais gostoso do que se sentir só mais um(a) na vida da outra pessoa. E o quentinho esquentou quando eu lembrei que tenho cobertas e um filme ótimo pra assistir e não preciso de alguém só pra passar a noite e aumentar esse buraco aqui dentro. E aumentou ainda mais quando eu finalmente percebi que essa minha sensibilidade é linda e que talvez eu ainda a use pra escrever um livro e dedique sem a menor ironia pra todos aqueles que eu amei. E a todos aqueles que eu ainda vou amar. E principalmente aquele que vai me fazer querer ser um só. Porque ele existe e só essa certeza me aquece por inteira.